A Little Accident.

Eu nunca tinha dado muito valor nessa coisa de aproveitar a vida. Nunca tinha entendido. Todo mundo fala que tem que acontecer alguma coisa conosco para que realmente nos importemos, e eu sempre achei que fosse besteira. Até aquele dia.
Não consigo explicar o que senti quando vi tudo girando... Foi uma mistura gigantesca de sentimentos. O barulho da roda batendo no meio-fio e do carro pousando no chão foram, pra mim, ensurdecedores. Os outros não lembram desses sons. A única coisa que eu pensava enquanto o carro rodava era 'acabe logo, acabe logo, acabe logo'.
O gui abriu o porta malas e saiu. Foi ajudar as outras pessoas a saírem do carro pela porta da frente. Saí pelo mesmo lugar que ele e, nessa hora, só pensava em entrar lá de novo para pegar meu tenis, que tinha saído do meu pé. Eu ainda não havia me tocado do que tinha acontecido. Depois que todos saíram, entrei e peguei meu all star - nessa hora marrom - branco. Saí de dentro do carro novamente, calcei o que tinha pego. Vi o carro de lado, completamente amassado. Minhas pernas bambearam e eu comecei a chorar. Acendi um cigarro.
A vida é sim muito frágil. Nós poderíamos ter morrido dentro do Jet, o Jatinho, dentro do Fox Submarine. Dentro do carro de onde tiramos todos os fandangos que caíram nos tapetes e nos bancos duas horas antes... Onde, naquele dia, avitamos fumar por causa do cheiro que ficaria. Aquele carrinho preto que tocava as melhores músicas do mundo e que nos levou pra todas as praças, picos, postos, parques abandonados... Que nos levava pra casa.
Eu continuo sem medo de morrer. Não acho que devemos ter medo de algo que acontece com todo mundo, que é natural. O que me preocupa é quando isso pode acontecer, porque pode não ser a hora, assim como não foi naquele dia.
We all used to live in a Fox Submarine.

Nove do Dez de Dois Mil e Dez.

Era sábado, lá pelo meio dia, no centro da cidade. Ao contrário do que costuma acontecer, estava frio - ou talvez fosse só a minha febre se manifestando. Eu estava esperando, como de costume depois da aula de desenho, pelo carro cinza com a placa iniciada por DQX estacionar frente à escola, para eu ir pra casa. Entediada.
Uma coisa - e talvez a única - que eu gosto de fazer enquanto espero é observar as pessoas que passam por lá. Sempre vejo um casal de velhinhos andando de mãos dadas, cada um com sua aliança na mão esquerda, em passos lentos e tranquilos. Gosto de imaginar que estão juntos há muito tempo, e acho isso extremamente bonito. Quase me faz acreditar em amor. Talvez na época em que se casaram, ele realmente existisse.
Mas isso não aconteceu, eles não passaram por lá naquele dia.
E outra coisa me chamou a atenção.
Descendo a rua, com um andar perdido, quase enigmático, vinha um senhor já de bastante idade. O que notei, foi que ele olhava bem no fundo dos olhos das pessoas por quem passava. Por um instante, o achei estranho.
Lembrei-me do dia em que um outro senhor passou por mim, parou, voltou à minha frente e disse "Essa cor de cabelo ficou ótima em você. Não mude nunca!".
Quando saí dessa lembrança, o senhor do passo misterioso estava quase passando por mim. Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete segundos, e ele chegou onde eu estava. Olhou em meus olhos, com os seus, que pareciam maiores que o normal devido aos óculos de lentes grossas. E foi então que vi.
Os olhos pareceram maiores ainda, e o que eu senti foi inexplicável. Vi tanta coisa naqueles olhos quase pretos... Vi uma súplica, um desejo extremamente enorme dizendo 'É você? Por favor, me diga que é você!". Vi uma coisa cinza, sem forma, sem identidade, vazia. Vi uma tristeza e uma falta de conhecimento de tempo e espaço tão cortante, que tive vontade de me desculpar, de dizer que não era eu, mas que daria tudo pra que fosse, praquilo tudo sair dos olhos dele. Era como se ele tivesse perdido algo. Ou melhor - pior -, alguém. Ele procurava alguém conhecido em cada olho que via. Talvez não fosse alguém conhecido, mas alguma coisa, qualquer coisa familiar. Tive vontade de chorar.
Não encontrou em mim, e continuou andando, procurando tudo o que faltava nele nos olhos das outras pessoas.
Tive mais vontade ainda de chorar.


Não, eu não consigo expressar com palavras o que vi nos olhos dele. Não há nada que explique.

Uma História Sem Borboletas.

Vem cá, toma, acende esse cigarro. Senta aqui no sofá, esquece isso. Falemos sobre as palavras dos queridíssimos Mário Quintana e Hilda Hilst, falemos sobre as cores. Toma, uma xícara de café. Engole a indiferença com esse líquido preto e morno, que eu não gosto de te ver assim. Era meio alaranjada, ela respondeu. E fria, também. Mas isso não é uma cor.
Não mesmo, mas também serve. Acendi outro cigarro, e ela permaneceu quieta, contemplando a fumaça que saía do Marlboro recém jogado no cinzeiro, que subia num fio tênue e dissipava-se conforme atingia uma altura maior. Tive vontade de mandá-la embora, de apagar o cigarro em sua lingua, depois acender outro e apagá-lo em seu olho esquerdo. O que diabos era uma manhã alaranjada e fria? Uma manhã alaranjada e fria significa.., ela sussurou, quebrando o silêncio. Talvez tivesse entrado em minha mente. Talvez manhãs alaranjadas e frias fossem aquelas que te ensinam a ler pensamentos. Significa uma manhã como outra qualquer, exceto pelas pessoas. Ela passou a olhar pra dentro da própria xícara de café. Elas se tornam mais deprimentes do que habitualmente são, e isso é assombroso. É como se te olhassem querendo te devorar, e não no sentido bom. E quando você olha pra elas, vê apenas um nada. Talvez fossem aquele branco liso e calmo que Caio F. fala sobre em Uma História de Borboletas, aqueles bichos brancos e sujos. Mas não havia uma borboleta sequer em meus cabelos, nem nos das outras pessoas. A próxima manhã, espero ser azul e quente.
Outro cigarro, e mais outro, e outro, até acabar o maço. Nenhum deles apagado na língua, tampouco nos olhos. Pelo menos não visivelmente, nem por mim.

Hero/Heroine.

Ontem eu pensei no dia em que fomos enquadrados pela polícia por estarmos fumando maconha. Você se lembra de como gelamos quando o policial de ombros e peitoral do tamanho do mundo perguntou nossos nomes e pediu o número de nossas identidades? Hoje não fumo mais cinco baseados por dia. Aliás, nao fumo nem um. Só cigarro, mesmo. Lucky Strike, aquele que você odiava.
Lembrei das várias noites banhadas à pinga de dois reais, e de você segurando meu cabelo pra eu vomitar. Nós ríamos de tudo. Qualquer pedra caindo no chão era capaz de nos deixar sem fôlego.
Hoje, só bebo café.
Você costumava me contar a história de um amigo seu de infância, que mal saía de casa, e gostava muito de ler livros. Você dizia que ele nao aproveitava a vida, e que morreu por causa disso. Você dizia que não conseguiria passar uma noite sequer dentro de casa, e que livros não davam barato. Eu descobri que amo ler, e sempre dou risada quando penso na cara que você faria se me visse sentada numa poltrona com um livro aberto em meu colo.
"Um dia, nós vamos pra Europa. Em alguns lugares, lá é tudo liberado. Ir pra lá com você vai ser a melhor coisa do mundo".
"Você me faz bem, sabe? Chega a me fazer mais bem que a maconha.. E olha que isso é raro acontecer".
Sete anos, e eu ainda lembro de como você falava sobre ser vítima das circunstâncias. Eu não sabia quais eram elas, mas prefiro acreditar que eram as culpadas, mesmo.
Sete anos, e não tem um dia sequer que eu não pense em você. Penso na chance que você teria se não tivesse se rendido completamente. Tenho certeza de que teria sido uma pessoa incrível, um pai incrível, um marido incrível, se tivesse superado.
A heroína te tirou de mim, e eu sempre achei que heroínas salvassem as pessoas.
Você dizia que eu era a sua, e por muito tempo a ideia de que eu poderia te salvar me corroeu por dentro. Ler histórias em quadrinho quando se está chapado é capaz de te deixar confuso sobre o que acredita ou não. Eu achava ser a sua mulher maravilha, ou algo do tipo.
Fiquei achando que era culpa minha, e quase tive o mesmo fim que você. Essa ideia de que eu era a sua heroína, e que foi a heroína que te matou, fez com que me sentisse culpada.
Mas sua heroína era outra.

Back to business.

Business ou não, o fato é que minhas aulas voltaram. O que quer dizer que voltei a escrever.
Em breve novas postagens.

Answer.

Não foi fácil, sabe? Aquela coisa toda de ir embora... Foi desgastante e confuso, e hoje eu acredito que tenha sido errado. Errado e precipitado.
Eu sei que é egoísta da minha parte aparecer depois de dois anos e te mergulhar nesse pedido de desculpas que você sempre soube que existiu, mas nunca teve. Eu vi o quanto você sofreu, eu vi o quanto você se perdeu.

Não foi fácil, sabe? Eu tive que me desfazer daquela música, também. E quando meu celular tocou, mostrando que era você, mostrando que estava no show, eu quis atender, eu quis gritar que a Alemanha nao é nada, que eu a queria aqui comigo! Não tive coragem.

Eu também sinto sua falta. Sinto mesmo, de verdade.
Que raiva do avião que me levou daí.

Dont waste your time.

Em tempo:
Eu nunca disse que escrevia bem.

Cativar-te-ei. Ou não.

E nós estavámos ali, parados no meio daquela praça vazia, sem dizer nada. O vento fazia seus cabelos balançarem de um jeito disforme, agradável.
Há doze meses você pediu permissão para se sentar na cadeira vaga da mesa em que eu estava, naquela cafeteria simpática no centro da cidade. Há doze meses, eu o permiti. Há doze meses, sentados frente a uma mesa daquela cafeteria simpática, nós conversamos sobre nossas vidas e gostos. Há doze meses, passamos a nos encontrar sempre naquela mesma mesa daquela cafeteria simpática.
Você me cativou, me fez precisar da sua companhia, da sua voz, do seu sorriso, do seu cheiro, das suas cores. Você me cativou.
E naquela hora, aquela na praça vazia, com o vento... estava tão frio. O que eu mais queria era que você me abraçasse, mas isso não aconteceu. Não naquela hora fria. Você, por dentro, estava como o final do mês de junho, como o vento que batia no meu e no seu rosto. Você não era nada você. Ou então estivesse sendo mais do que nunca. Mas o que marcou, foi que você, em meio aquelas golfadas frias de ar, não era nada eu.
E única coisa em que eu pensava era seu hálito de café habitual, que aliás, no momento não existia. Seu hálito de café e tudo que estava relacionado a ele: as vezes em que você me acordou sussurando em meu ouvido, os beijos, as brigas, as conversas, os abraços, a gente. Naquela hora, era como se nada disso tivesse existido.
Você finalmente me abraçou, mas não dizia nada. Eu não queria mais ficar envolta em seus braços, eu queria uma explicação. Mas o que recebi foi seu sussuro - sem cheiro de café -, dizendo "acabou".
E agora eu me pergunto, te pergunto: você não aprendeu com O Pequeno Príncipe que nós nos tornamos responsáveis pelo que cativamos?
Eu aprendi que nós só conhecemos bem as coisas que cativamos, e naquela hora, eu não te conhecia.

Voce foi embora.

Você foi embora, saiu do Brasil. Nem me disse quando ia, ou para onde ia. Fiquei de novo sem suas palavras - aquelas, trocadas de dia, de tarde, de madrugada, sussuradas, cantadas. Aquelas que eu tanto amava.
Tenho pensado na possibilidade de você lembrar meu nome e meu timbre de voz, mas se sequer deu-se ao trabalho - pequeno, diga-se de passagem - de se despedir, quem dirá que ainda lembra de mim, de tudo o que aconteceu? Talvez até se lembre, mas não liga. Pouco caso das nossas palavras, mais uma vez.
A vontade de ter te visto no show daquela banda - aquela que você me ensinou a gostar - foi imensa. Me fez discar seu número no meu celular e levá-lo à orelha, enquanto o vocalista cantava aquele trecho "sem você na cidade, tudo que tem lá também sumiu". Você não atendeu. Eu queria fazer com que ouvisse a música, com que lembrasse. Com que sentinsse o que eu senti.
Mas não aconteceu nada. Nosso relacionamento de fases - como a mulher da música do Raimundos - havia acabado.
Que raiva do avião que te levou daqui.

Changes

Quando olhei praquele monte de calças, camisetas e meias no chão do meu quarto e comecei a ficar incomodada por não conseguir mais ver a madeira envernizada, subi imediatamente em minha cama, ficando em pé. Tive vontade de pular nela devido ao colchão de molas, mas não o fiz.
Eu olhava aquele monte de pano sujo e suado e via minha vida. Bagunçada, nojenta, gasta. Eu podia ver cada momento dela, cada pedacinho, cada não, cada palavra que não devia ter sido dita, cada frase que não foi.
Eu via um nada. Um nada confuso.
Via meus verões cheios de neve, meu inverno cheio de sol. Era tudo desconexo, tudo sem sentido, tudo de cabeça para baixo.
Via meu outono inteiro verde, e minha primavera sem cor. Desconhecia meu próprio mundinho.
Fiquei algumas meias horas olhando indignada aquela pseudo-vida, pseudo-felicidade. Aquilo me corroía, aquilo tinha que sumir.
Desci da cama. Comecei pelas meias.

Quatro de Janeiro de 2009.

E eu me lembro de quando costumava olhar em seus olhos castanhos e profundos. Eu poderia passar anos procurando alguma coisa neles que não fosse amor, mas não encontraria. Ele costumava se sentir assim por mim, mas por algum motivo eu nao liguei pra isso. Eu simplesmente joguei seus sentimentos numa lata de lixo qualquer. Eu fui tão cruel.
Agora percebo isso quando vejo suas fotos, seu sorriso. Não é como aquele que eu costumava ver, e seus olhos não estão mais tão brilhantes como antes.
Quero dizer, eles estão brilhantes, mas aquele brilho nao é mais pra mim, é pra outra pessoa. Tem outra pessoa no lugar que deveria ser meu. Mas não posso reclamar, eu mesma fiz isso.
E não há nada que eu possa fazer. Não mais.

X

Nós dois sabíamos que ele me tinha nas mãos, e que qualquer meio, qualquer possibilidade de escapar por entre seus dedos feito água corrente não seria agarrado por mim. Acho que eu gostava de não ficar na defensiva em relação ao que sentia. Mas só dessa vez, e só em relação a ele.
Nosso relacionamento era de fases, como a mulher da música do Raimundos - aliás, Raimundos era uma coisa que não faltava -. De vez em quando, ficávamos mais de mês sem conversar, mas a saudade batia com força em um de nós, e voltávamos ao aconchego de nossas próprias palavras. Palavras trocadas de manhã, palavras trocadas de tarde, palavras trocadas de madrugada, palavras cantadas, palavras sussuradas, palavras-imagem, palavras. Ah, como eu amava cada palavra sua...
Mas isso não era bom. Quero dizer, você muitas vezes fez pouco caso da nossa história, das nossas palavras. Se eu parar pra pensar, concluo que você me fez mais mal do que bem. Minha cabeça sabe disso, mas meu coração lateja a ideia de que você me queria bem, de que fui importante.
Você ainda me tira o sono. Você ainda corre como um arrepio em minha nuca - como das vezes em que você suavemente passou seus dedos nela, fazendo meus pelos eriçarem - quando ouço aquela música. Você ainda é o que me vem na cabeça antes de dormir, você ainda se finca dentro de mim, causando dor e dúvida.
Você foi, você é, e eu receio que sempre será parte da minha vida, e eu sinto sua falta.

"É tarde, e quando voltar vai ser melhor. A gente nem vai dormir".
"Que raiva do avião que te levou daqui".
"Ninar você na minha rede, pra gente se encontrar num sonho bom".
"Sem você na cidade, tudo que tem lá tambem sumiu. - Me diz que horas são, que eu vou dormir..."

Que seja, então.

Ela nunca se sentiu tão mal em toda sua vida. Exagero, já se sentiu pior, mas hoje doía tanto, tanto.
O que doía ao certo, não sabia. Só sabia que era insuportável, corrosivo, extremamente putreficante. Podia jurar que, se tudo isso saísse de dentro dela, seria através de nódulos, hematomas e feridas necrosadas. Seria horrível.
Mas pior que ter o corpo e a pele completamente machucados, é ter tudo confuso dentro de si. Pensamentos desconexos, atormentadores e cortantes. São como estalactites - grandes, pontudos e pesados - caindo em sua direção, não te dando opções de fuga, te mostrando que vão te pegar, e que isso vai doer.
Não há como evitar ou dispersar.
Sugere a si mesma que vá dormir, tendo a esperança de que quando acordar, nao haverá mais nada. Relevar é, às vezes, essencial. Independente de como está, de como esteve. Ou então não relevar, mas fazer disso algo possivelmente agradável. Como aprendido com sua amiga, que por sua vez aprendeu com Caio Fernando Abreu, que seja doce.
Que o sonho seja doce, que a manhã seja doce, que a dor seja doce, que as feridas sejam doces, que a vida seja doce.
Que ela seja doce.

Suma.

Eu não quero te ver hoje, não quero te ver amanhã, não quero te ver depois de amanhã, não quero te ver fim de semana que vem. Nem no outro. E muito menos no outro.
Não quero ter que lidar com sua voz, seu sorriso, seus gestos. Não quero ter que interagir com você.
Eu cansei de acreditar que você se importa, somente tendo suas palavras afirmando isso. Eu não posso fazer absolutamente nada com suas palavras. Eu não posso transformá-las em verdade. Quem tem o poder para fazer isso é você, que falha completamente.
Eu cansei de esperar por uma coisa que talvez até exista, mas que não se mostra.
Por isso eu não quero te ver. Não quero te ver mês que vem, nem no outro. Não quero te ver no próximo feriado, nem nas férias.
Por favor, só pegue suas coisas e saia.
Suma.

Tapa na cara.

Real life sent you a kiss.




Real life sent you A BIG FAT KISS.
_|_

Vida - ou a falta dela.

O que aconteceu não era de todo culpa dele. Não há nada de errado em dizer adeus pra alguém, quando você sente que deve; quando sente que, se não disser, uma parte de você ficará impenetrável, morta.
E apesar de todos os seus amigos - e amigas dela, também - insistirem que o motivo principal não havia sido o término, ele se sentia péssimo. Não havia como não se sentir.
No dia, os pais dela agiram como se ele a tivesse induzido a fazer tal coisa. Chamaram-no de assassino, de crápula, de monstro. Ainda olham pra ele com nojo e ódio.
Não houve um motivo exato. Talvez até houvesse, mas ninguem ousava falar. É sabido que muita coisa a incomodava. A falta de controle sobre sua própria vida era, talvez, a maior delas.
Ela achava um absurdo não poder controlar os próprios limites, os próprios sonhos, os próprios setimentos, as próprias palavras, a própria comida favorita, as próprias roupas, a cor do próprio edredom... Seu pai, e principalmente sua mãe, o faziam.
E eu, pessoalmente, os culpo.
Ela se apoiava muito nele. Naquele dito acima, que se sentia culpado. Nunca havia gostado tanto de alguém, nem mesmo daquele primeiro namorado, que a dedicou uma música de composição própria e mandava cestas de café da manhã nos aniversários de namoro. Nem mesmo dele.
Ele também nunca gostara de alguém tanto quanto gostou dela. A diferença é que ela o amava, e ele só... gostava. Seu sentimento se esgotava enquanto o dela só aumentava, e não é bom quando um tem de mais, e o outro, de menos.
Foi por isso que ele teve de dizer adeus.
Mas enquanto ele se despediu de uma única pessoa, ela se despediu de todos. Ele era a única coisa que a fazia suportar aquele inferno que era não controlar o que faz, já que com ele, sentia-se livre. Ele a ensinou a sentir-se livre. Ela aprendeu tão bem, que levou isso consigo depois do adeus.
Sentia-se tão livre que viu que tinha liberdade até para controlar sua vida. E nesse caso, vida no sentido de ter um coração batendo e um cérebro pensando.
Não foi culpa dele.

Let's talk,

Ele não conseguia olhar nos olhos dela.
- Tem mais alguma coisa que te incomoda em mim? - Ele fitava o chão.
- Tudo em você me incomoda - ela respondeu, tímida e com medo - E é isso que me faz gostar tanto de você.
Ele finalmente olhou para ela.
- Me incomoda o jeito que você arruma o cabelo, o fato de você rir de tudo, o fato de eu nunca entender o que voce quer dizer, o fato de você fumar e beber..
Ela fez uma pausa. Não sabia se devia continuar falando ou não, mas a expressão de espera dele a fez prosseguir, com a voz meio trêmula.
- O jeito que você me olha, a cara que faz antes de me beijar... Tudo!
Ele deixou escapar um sorriso, seguido de um pedido de desculpas.
- E me incomoda de um jeito bom. De um jeito muito... Muito seu... Que eu acabo achando muito meu, também.
Ela suspirou, o que indicou o ponto final de seu discurso. Agora era ela quem não conseguia olhar pra ele. Ele começou a falar.
- Eu fiquei meio constrangido agora - sua voz realmente indicava constrangimento -, porque eu não odeio nada em você.
O coração dela disparou, ela corou. Ele não percebeu.
- Tá, eu odeio como você me deixa puto da vida, e logo depois consegue me deixar feliz.
- E isso é bom?
- É - essa afirmacão a fez olhar nos olhos dele -. Acho que só você consegue me deixar assim... É uma vontade de explodir.
Ela ia falar alguma coisa, mas ele continuou.
- E depois você me fala tudo isso... Eu fico com cara de bobo, sabe?
Ela sabia. Podia ver aquilo ali, bem a sua frente.
Eles se odiavam.

"But mostly I hate the way I dont hate you. Not even close, not even a little bit, and not even at all." - 10 Things I Hate About You.

Baseado em fatos reais, haha <3

Foi o melhor dia da minha vida.

Acordei às sete horas da manhã. Eu ainda não tinha me tocado que havia acordado nesse dia com um verdadeiro propósito, com uma coisa realmente inesquecível pra fazer. Tomei banho, me arrumei, comi sucrilhos e fui pra rodoviária com minha mãe. Lá, encontrei pessoas que iam pra São Paulo com a Rock in Road também. Às dez horas o ônibus chegou na rodoviária e nós nos dirigirimos pra São Paulo.
Chegamos na Chácara do Jockey às 14:50. O segurança cantou minha mãe antes de nos deixar entrar. Ele disse que, se o Duff McKagan a visse na plateia, pararia o show e a pediria em casamento. Quem me dera!
Entramos. Meu ingresso era da pista premium, mas fui até a pista normal para encontrar meu "irmãozinho" Why, que eu conheço desde 2007, mas nunca o tinha visto pessoalmente. Minha alegria já começou aí.
Às 15:20 me dirigi à multidão para tentar ficar perto da grade. Encontrei duas meninas que tambem estavam tentando se infiltrar na plateia, e fomos juntas traçando um caminho entre as pessoas, dando a desculpa de que uma amiga nossa estava mais a frente. Paramos numa distancia um tanto quando boa da grade. Duff Mckagans Loaded começou a tocar às 16:50hrs. Umas cinco pessoas muito loucas, com um estilo bem peculiar começaram a pular em cima de todo mundo para conseguir um lugar perto da grade. Estavam lá para ver o Duff e somente ele, então todos os deixaram passar. Foi bonito até! Um homem que devia ter seus 23 anos, de cabelo completamente descolorido, olhava para seu irmão e berrava com lágrimas nos olhos 'É o Duff, cara! É O DUFF!'. Claro que eu tambem pulei e gritei ao som da banda do ex-integrante do Guns'n'Roses. O calor era insuportável no meio de toda aquela gente.
Lá pelas 18:40, Dir En Grey começou a preparar as coisas no palco, e a multidão ia ao delírio quando a silhueta de um dos integrantes aparecia. A banda finalmente entrou às 7hrs. Como os fãs de Duff McKagans Loaded tinham ido embora, consegui me aproximar um pouco mais do palco. Pulei e gritei muito, e assim como a multidão inteira, enlouqueci quando Kyo usou os dois conjuntos de cordas vocais ao mesmo tempo. Ao término do show, quando os fãs de Dir En Grey tambem foram embora, consegui ir mais pra perto da grade. Só havia duas fileiras de pessoas na minha frente até a ela!
O painel da banda que era o motivo da minha ida até São Paulo num domingo desceu, e me emocionei ao ler 'Pretty Odd'. Panic! At The Disco entrou às 20 hrs, começou a chover. Ao ver o Brendon subir ao palco com um sorriso no rosto, não contive algumas lágrimas. It's Time To Dance começou a tocar. Brendon cumprimentou a plateia, perguntou se estávamos animados para o show do Evanescence. Antes de cada musica, ele falava alguma coisa relacionada a ela. Por exemplo, antes de começarem a tocar I Constantly Thank God For Esteban, ele disse "This song talks about a guy named Esteban!'. Não me lembro entre quais músicas foram, mas ele perguntou "Does anybody knows any good parties where we can get really drunk at?" - Alguém sabe de alguma festa onde podemos ficar muito bêbados? - e eu gritei "PARTY AT MY HOUSE!", mas acredito que ele nao tenha escutado, infelizmente.
Depois de tocar 12 músicas, Brendon disse que tinha sido o melhor show deles em 5 anos, e que eles voltariam pro Brasil, com certeza. Nas palavras dele: I'm not fucking lying, this is the best show we've played. We've been playing for five years, and THIS is the best. We are definitely coming back, if you have us, for sure!. Quase morri de felicidade. Fecharam com Mad as Rabbits, e o "lema" ficou em minha cabeça mais forte que nunca: we must reinvent love. O show acabou, Brendon jogou um setlist na plateia, que eu peguei. Era o setlist do Dallon! Saí com dificuldade e cautela da multidão, pra não me machucar e não rasgar o setlist, que estava molhado por causa da chuva. Encontrei minha mãe e fomos comprar água pra mim. Devia ser umas 21:20. Eu estava sem comer nem beber nada há oito horas.
Fomos até a pista normal novamente, onde estava o quiosque de vendas de camisetas e acessórios oficiais das bandas. Compramos três camisetas do panic e voltamos pra pista premium.
Lá pelas 22:20, Evanescence começou a tocar, cantamos e berramos junto, e confesso que chorei quando Amy Lee se sentou ao piano para tocar My Immortal. O show acabou, era mais ou menos 23:50. Me despedi do Why, e eu e minha mãe fomos até saída. Começou a chover muito forte e o ônibus não estava onde combinaram que estaria. Passamos quinze minutos na chuva mais forte da minha vida, quando finalmente achamos o ônibus. Viajamos de volta a Ribeirão completamente ensopadas, chegando às 4:15 da manhã. Voz era uma coisa que eu não tinha mais.
Esse foi meu domingo do dia oito de novembro de dois mil e nove. O dia do Maquinária festival, o melhor dia da minha vida.
Obrigada a todas as pessoas que tornaram isso possível. <3



Brendon prometeu que voltariam ao Brasil.
E quando voltarem, estarei lá novamente.

Suddenly,

Ele não parava de falar. Falava, falava, falava, mas eu não ouvia mais nada. Parei de ouvir quando disse "acho que não dá para continuar".
Lembrei-me do primeiro sorriso dele que vi, de como corei quando se aproximou e perguntou meu nome. Lembrei daquela manhã em que me ligou pra desejar bom dia, alegando que gostava do meu timbre de voz recém despertado. Lembrei daquela música, daquela tarde de outono em que pulamos nos montes de folhas secas do parque da cidade, e de como o jardineiro ficou bravo ao ver que teria de juntá-las novamente. Lembrei de novo daquela musica.
Quando voltei à realidade, àquela realidade que fez com que minha respiração falhasse, com que meus dedos dos pés e das mãos formigassem e com que meu coração gritasse pedindo uma explicação, ele havia se calado. Olhava diretamente em meus olhos, mas eu não conseguia devolver o olhar. Se olhasse de volta, a lágrima que eu lutava para não cair, cairia queimando minha face e mostrando como eu era fraca.
Ele me abraçou. Abraçou-me apertado. Um abraço vazio, triste e amargurado, porém decidido.
Devolveu-me o colar com minhas iniciais grafadas no pingente, deu meia volta e saiu andando.
Eu permaneci ali, imóvel, prostrada, sem receber explicação alguma, com o coração latejando, intercalando desmotivação, infelicidade, dúvida e solidão.

Inverno

Pra falar a verdade, não sei quanto tempo se passou desde o dia em que te vi saindo pela porta dos fundos. Parece que o tempo congelou, já que os dias têm demorado a passar. Não sei nem se eles passam mesmo... Mas acho que isso nao importa. Pra que contar os segundos, os minutos, as horas, os dias, as semanas, os meses, os anos, se no final você não voltará por aquela mesma porta que te deixou ir embora? Somente folhas secas e o vento frio do mês de julho.
E pensando bem, vejo que além de levar suar roupas dentro da mala velha, você levou parte de mim. Talvez nao só uma parte, mas eu inteira. Acho que é por isso que costumo estranhar o lugar em que estou. Essas paredes frias não podem mais ser chamadas de lar, desde aquele dia. Era inverno, era frio, era triste, e mesmo assim você saiu pela porta dos fundos.

Why

I can feel you near me, even though you're far away. I can feel, I can feel you baby, why?
It's not supposed to feel this way, I need you more and more each day. It's not supposed to hurt this way.
Tell me, are you and me still together? Do you think we could last forever?
Hey, listen to what we're not saying.. let's play a different game than what we're playing. Try to look at me and really see my heart. Do you expect me to believe I'm gonna let us fall apart?
So go and think about whatever you need to think about, go ahead and dream about whatever you need to dream about, and come back to me when you know just how you feel, you feel.

- Avril.

A Few Small Bruises

Out here on the ledge, I'm not far away from stepping off. I've finally picked out my cloud.. it's the one over there surrounded by all that air.
You reached out your hand and said 'I understand, so why not come down?'..
Well, except for a few small bruises, cuts, and scars well, I'm fine.
Thank you for asking..
I'm so glad we had this moment here.. I know they think I'm crazy, but everything I am is everything I was taught to be..
And as you read my words out loud, make me sound genius, make me sound special.. and maybe I'll come down.

Antonella,

a partir de amanhã você voltará a comer certo.
Combinado?



Combinado.

Quinze de Agosto de 2009

It was autumn again, and the leaves were falling faster than ever. I thought I'd be alone, but when i went to that place again, it didn't hurt like it used to, and all my dreams were there to make me feel the luckiest person on earth. I guess I had to believe in what I thought I couldn't hold on to, and when I realized that those silly things could and would help me passing through, I changed my life.

dois mil e oito, dois mil e nove.

Então eu comecei a correr.
Corria pela cidade inteira, pelos cantos da minha casa, pelo céu.
Corria, mas não conseguia te alcançar. Você parecia uma criança com medo. Não parava, não olhava para trás, e atingia uma velocidade maior a cada segundo.
De vez em quando era como se cada passo seu disesse 'voce não consegue, nunca conseguirá'. Era como um desafio.
Foi quando um amontoado de palavras te brecou e não te permitia continuar. Você resolveu correr na direção contrária à que estávamos indo, na esperança de eu esperar.
Eu esperei.
Esperei, e você parou ao chegar perto de mim. Parou, me encarou, sorriu, me confortou.
Voltou a correr. Depois de um tempo, olhou pra trás com uma expressão de satisfação.
Não me viu. Parou. De satisfeito, passou para desorientado.
Apagou as luzes, retirou-se.

Hans Hubermann

Ele era, sem sombra de dúvidas, um homem bom.
Ele era o papai, aquele que, de madrugada, salvava Liesel do pesadelo sobre seu irmão, sobre aquele trem, aquela tosse. E que depois trocava os lençóis molhados da cama dela, e juntos iam para o porão ler um pouco do livro que havia sido roubado - O Manual do Coveiro foi o primeiro -, ou ganhado, e escrevia na parede as palavras desconhecidas por ela, a roubadora de livros.
Ele a ensinou a ler. Ele tocava acordeão. Ele tinha olhos prateados.
Ele foi pra guerra duas vezes, ele escondeu um judeu no porão.
Ele era o pintor de paredes.
Ele era o papai.
Ele era o acordeão.

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