Hero/Heroine.

Ontem eu pensei no dia em que fomos enquadrados pela polícia por estarmos fumando maconha. Você se lembra de como gelamos quando o policial de ombros e peitoral do tamanho do mundo perguntou nossos nomes e pediu o número de nossas identidades? Hoje não fumo mais cinco baseados por dia. Aliás, nao fumo nem um. Só cigarro, mesmo. Lucky Strike, aquele que você odiava.
Lembrei das várias noites banhadas à pinga de dois reais, e de você segurando meu cabelo pra eu vomitar. Nós ríamos de tudo. Qualquer pedra caindo no chão era capaz de nos deixar sem fôlego.
Hoje, só bebo café.
Você costumava me contar a história de um amigo seu de infância, que mal saía de casa, e gostava muito de ler livros. Você dizia que ele nao aproveitava a vida, e que morreu por causa disso. Você dizia que não conseguiria passar uma noite sequer dentro de casa, e que livros não davam barato. Eu descobri que amo ler, e sempre dou risada quando penso na cara que você faria se me visse sentada numa poltrona com um livro aberto em meu colo.
"Um dia, nós vamos pra Europa. Em alguns lugares, lá é tudo liberado. Ir pra lá com você vai ser a melhor coisa do mundo".
"Você me faz bem, sabe? Chega a me fazer mais bem que a maconha.. E olha que isso é raro acontecer".
Sete anos, e eu ainda lembro de como você falava sobre ser vítima das circunstâncias. Eu não sabia quais eram elas, mas prefiro acreditar que eram as culpadas, mesmo.
Sete anos, e não tem um dia sequer que eu não pense em você. Penso na chance que você teria se não tivesse se rendido completamente. Tenho certeza de que teria sido uma pessoa incrível, um pai incrível, um marido incrível, se tivesse superado.
A heroína te tirou de mim, e eu sempre achei que heroínas salvassem as pessoas.
Você dizia que eu era a sua, e por muito tempo a ideia de que eu poderia te salvar me corroeu por dentro. Ler histórias em quadrinho quando se está chapado é capaz de te deixar confuso sobre o que acredita ou não. Eu achava ser a sua mulher maravilha, ou algo do tipo.
Fiquei achando que era culpa minha, e quase tive o mesmo fim que você. Essa ideia de que eu era a sua heroína, e que foi a heroína que te matou, fez com que me sentisse culpada.
Mas sua heroína era outra.

5 comentários:

Alan de Faria disse...

FODA !

bruckz disse...

uau. muito bom mesmo. FODA [2]

Anônimo disse...

FODA FODA FODA! *-*

Marjorie Rodrigues disse...

Eu amei esse texto!

Anônimo disse...

Me identifiquei muito, chorei ): lindo demais, mesmo!

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