Eu nunca tinha dado muito valor nessa coisa de aproveitar a vida. Nunca tinha entendido. Todo mundo fala que tem que acontecer alguma coisa conosco para que realmente nos importemos, e eu sempre achei que fosse besteira. Até aquele dia.
Não consigo explicar o que senti quando vi tudo girando... Foi uma mistura gigantesca de sentimentos. O barulho da roda batendo no meio-fio e do carro pousando no chão foram, pra mim, ensurdecedores. Os outros não lembram desses sons. A única coisa que eu pensava enquanto o carro rodava era 'acabe logo, acabe logo, acabe logo'.
O gui abriu o porta malas e saiu. Foi ajudar as outras pessoas a saírem do carro pela porta da frente. Saí pelo mesmo lugar que ele e, nessa hora, só pensava em entrar lá de novo para pegar meu tenis, que tinha saído do meu pé. Eu ainda não havia me tocado do que tinha acontecido. Depois que todos saíram, entrei e peguei meu all star - nessa hora marrom - branco. Saí de dentro do carro novamente, calcei o que tinha pego. Vi o carro de lado, completamente amassado. Minhas pernas bambearam e eu comecei a chorar. Acendi um cigarro.
A vida é sim muito frágil. Nós poderíamos ter morrido dentro do Jet, o Jatinho, dentro do Fox Submarine. Dentro do carro de onde tiramos todos os fandangos que caíram nos tapetes e nos bancos duas horas antes... Onde, naquele dia, avitamos fumar por causa do cheiro que ficaria. Aquele carrinho preto que tocava as melhores músicas do mundo e que nos levou pra todas as praças, picos, postos, parques abandonados... Que nos levava pra casa.
Eu continuo sem medo de morrer. Não acho que devemos ter medo de algo que acontece com todo mundo, que é natural. O que me preocupa é quando isso pode acontecer, porque pode não ser a hora, assim como não foi naquele dia.
We all used to live in a Fox Submarine.
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Changes
Quando olhei praquele monte de calças, camisetas e meias no chão do meu quarto e comecei a ficar incomodada por não conseguir mais ver a madeira envernizada, subi imediatamente em minha cama, ficando em pé. Tive vontade de pular nela devido ao colchão de molas, mas não o fiz.
Eu olhava aquele monte de pano sujo e suado e via minha vida. Bagunçada, nojenta, gasta. Eu podia ver cada momento dela, cada pedacinho, cada não, cada palavra que não devia ter sido dita, cada frase que não foi.
Eu via um nada. Um nada confuso.
Via meus verões cheios de neve, meu inverno cheio de sol. Era tudo desconexo, tudo sem sentido, tudo de cabeça para baixo.
Via meu outono inteiro verde, e minha primavera sem cor. Desconhecia meu próprio mundinho.
Fiquei algumas meias horas olhando indignada aquela pseudo-vida, pseudo-felicidade. Aquilo me corroía, aquilo tinha que sumir.
Desci da cama. Comecei pelas meias.
Eu olhava aquele monte de pano sujo e suado e via minha vida. Bagunçada, nojenta, gasta. Eu podia ver cada momento dela, cada pedacinho, cada não, cada palavra que não devia ter sido dita, cada frase que não foi.
Eu via um nada. Um nada confuso.
Via meus verões cheios de neve, meu inverno cheio de sol. Era tudo desconexo, tudo sem sentido, tudo de cabeça para baixo.
Via meu outono inteiro verde, e minha primavera sem cor. Desconhecia meu próprio mundinho.
Fiquei algumas meias horas olhando indignada aquela pseudo-vida, pseudo-felicidade. Aquilo me corroía, aquilo tinha que sumir.
Desci da cama. Comecei pelas meias.
Vida - ou a falta dela.
O que aconteceu não era de todo culpa dele. Não há nada de errado em dizer adeus pra alguém, quando você sente que deve; quando sente que, se não disser, uma parte de você ficará impenetrável, morta.
E apesar de todos os seus amigos - e amigas dela, também - insistirem que o motivo principal não havia sido o término, ele se sentia péssimo. Não havia como não se sentir.
No dia, os pais dela agiram como se ele a tivesse induzido a fazer tal coisa. Chamaram-no de assassino, de crápula, de monstro. Ainda olham pra ele com nojo e ódio.
Não houve um motivo exato. Talvez até houvesse, mas ninguem ousava falar. É sabido que muita coisa a incomodava. A falta de controle sobre sua própria vida era, talvez, a maior delas.
Ela achava um absurdo não poder controlar os próprios limites, os próprios sonhos, os próprios setimentos, as próprias palavras, a própria comida favorita, as próprias roupas, a cor do próprio edredom... Seu pai, e principalmente sua mãe, o faziam.
E eu, pessoalmente, os culpo.
Ela se apoiava muito nele. Naquele dito acima, que se sentia culpado. Nunca havia gostado tanto de alguém, nem mesmo daquele primeiro namorado, que a dedicou uma música de composição própria e mandava cestas de café da manhã nos aniversários de namoro. Nem mesmo dele.
Ele também nunca gostara de alguém tanto quanto gostou dela. A diferença é que ela o amava, e ele só... gostava. Seu sentimento se esgotava enquanto o dela só aumentava, e não é bom quando um tem de mais, e o outro, de menos.
Foi por isso que ele teve de dizer adeus.
Mas enquanto ele se despediu de uma única pessoa, ela se despediu de todos. Ele era a única coisa que a fazia suportar aquele inferno que era não controlar o que faz, já que com ele, sentia-se livre. Ele a ensinou a sentir-se livre. Ela aprendeu tão bem, que levou isso consigo depois do adeus.
Sentia-se tão livre que viu que tinha liberdade até para controlar sua vida. E nesse caso, vida no sentido de ter um coração batendo e um cérebro pensando.
Não foi culpa dele.
E apesar de todos os seus amigos - e amigas dela, também - insistirem que o motivo principal não havia sido o término, ele se sentia péssimo. Não havia como não se sentir.
No dia, os pais dela agiram como se ele a tivesse induzido a fazer tal coisa. Chamaram-no de assassino, de crápula, de monstro. Ainda olham pra ele com nojo e ódio.
Não houve um motivo exato. Talvez até houvesse, mas ninguem ousava falar. É sabido que muita coisa a incomodava. A falta de controle sobre sua própria vida era, talvez, a maior delas.
Ela achava um absurdo não poder controlar os próprios limites, os próprios sonhos, os próprios setimentos, as próprias palavras, a própria comida favorita, as próprias roupas, a cor do próprio edredom... Seu pai, e principalmente sua mãe, o faziam.
E eu, pessoalmente, os culpo.
Ela se apoiava muito nele. Naquele dito acima, que se sentia culpado. Nunca havia gostado tanto de alguém, nem mesmo daquele primeiro namorado, que a dedicou uma música de composição própria e mandava cestas de café da manhã nos aniversários de namoro. Nem mesmo dele.
Ele também nunca gostara de alguém tanto quanto gostou dela. A diferença é que ela o amava, e ele só... gostava. Seu sentimento se esgotava enquanto o dela só aumentava, e não é bom quando um tem de mais, e o outro, de menos.
Foi por isso que ele teve de dizer adeus.
Mas enquanto ele se despediu de uma única pessoa, ela se despediu de todos. Ele era a única coisa que a fazia suportar aquele inferno que era não controlar o que faz, já que com ele, sentia-se livre. Ele a ensinou a sentir-se livre. Ela aprendeu tão bem, que levou isso consigo depois do adeus.
Sentia-se tão livre que viu que tinha liberdade até para controlar sua vida. E nesse caso, vida no sentido de ter um coração batendo e um cérebro pensando.
Não foi culpa dele.
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