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Nós dois sabíamos que ele me tinha nas mãos, e que qualquer meio, qualquer possibilidade de escapar por entre seus dedos feito água corrente não seria agarrado por mim. Acho que eu gostava de não ficar na defensiva em relação ao que sentia. Mas só dessa vez, e só em relação a ele.
Nosso relacionamento era de fases, como a mulher da música do Raimundos - aliás, Raimundos era uma coisa que não faltava -. De vez em quando, ficávamos mais de mês sem conversar, mas a saudade batia com força em um de nós, e voltávamos ao aconchego de nossas próprias palavras. Palavras trocadas de manhã, palavras trocadas de tarde, palavras trocadas de madrugada, palavras cantadas, palavras sussuradas, palavras-imagem, palavras. Ah, como eu amava cada palavra sua...
Mas isso não era bom. Quero dizer, você muitas vezes fez pouco caso da nossa história, das nossas palavras. Se eu parar pra pensar, concluo que você me fez mais mal do que bem. Minha cabeça sabe disso, mas meu coração lateja a ideia de que você me queria bem, de que fui importante.
Você ainda me tira o sono. Você ainda corre como um arrepio em minha nuca - como das vezes em que você suavemente passou seus dedos nela, fazendo meus pelos eriçarem - quando ouço aquela música. Você ainda é o que me vem na cabeça antes de dormir, você ainda se finca dentro de mim, causando dor e dúvida.
Você foi, você é, e eu receio que sempre será parte da minha vida, e eu sinto sua falta.

"É tarde, e quando voltar vai ser melhor. A gente nem vai dormir".
"Que raiva do avião que te levou daqui".
"Ninar você na minha rede, pra gente se encontrar num sonho bom".
"Sem você na cidade, tudo que tem lá tambem sumiu. - Me diz que horas são, que eu vou dormir..."

Que seja, então.

Ela nunca se sentiu tão mal em toda sua vida. Exagero, já se sentiu pior, mas hoje doía tanto, tanto.
O que doía ao certo, não sabia. Só sabia que era insuportável, corrosivo, extremamente putreficante. Podia jurar que, se tudo isso saísse de dentro dela, seria através de nódulos, hematomas e feridas necrosadas. Seria horrível.
Mas pior que ter o corpo e a pele completamente machucados, é ter tudo confuso dentro de si. Pensamentos desconexos, atormentadores e cortantes. São como estalactites - grandes, pontudos e pesados - caindo em sua direção, não te dando opções de fuga, te mostrando que vão te pegar, e que isso vai doer.
Não há como evitar ou dispersar.
Sugere a si mesma que vá dormir, tendo a esperança de que quando acordar, nao haverá mais nada. Relevar é, às vezes, essencial. Independente de como está, de como esteve. Ou então não relevar, mas fazer disso algo possivelmente agradável. Como aprendido com sua amiga, que por sua vez aprendeu com Caio Fernando Abreu, que seja doce.
Que o sonho seja doce, que a manhã seja doce, que a dor seja doce, que as feridas sejam doces, que a vida seja doce.
Que ela seja doce.

Suma.

Eu não quero te ver hoje, não quero te ver amanhã, não quero te ver depois de amanhã, não quero te ver fim de semana que vem. Nem no outro. E muito menos no outro.
Não quero ter que lidar com sua voz, seu sorriso, seus gestos. Não quero ter que interagir com você.
Eu cansei de acreditar que você se importa, somente tendo suas palavras afirmando isso. Eu não posso fazer absolutamente nada com suas palavras. Eu não posso transformá-las em verdade. Quem tem o poder para fazer isso é você, que falha completamente.
Eu cansei de esperar por uma coisa que talvez até exista, mas que não se mostra.
Por isso eu não quero te ver. Não quero te ver mês que vem, nem no outro. Não quero te ver no próximo feriado, nem nas férias.
Por favor, só pegue suas coisas e saia.
Suma.

Tapa na cara.

Real life sent you a kiss.




Real life sent you A BIG FAT KISS.
_|_

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