Vovô

Vô,
A avó da minha melhor amiga morreu ontem, dia 8 de setembro. Morreu de câncer também, mas não no pulmão, e sim no estômago, ou no intestino, nao me lembro bem. Ela estava morando com minha amiga na época. Isso me fez lembrar daquele ano, quando você passou a morar lá em casa. Do quanto fui estúpida e fraca, do quanto não te apoiei.
E sabe, isso me assombra até hoje.
Quando você se foi, eu não fiquei abalada logo de cara... Eu sofri depois, quietinha, na minha. Me perdoa por não ter te visitado no hospital, por não ter ido ao seu velório? Eu não consegui...
O engraçado é que mesmo tendo um câncer sem esperança de cura, você não perdia o bom humor. Naquele dia em que estávamos todos sentados na mesinha do quintal, falando sobre a quimioterapia, alguem perguntou, meio bravo "você achou que um comprimidinho fosse te curar?" e você respondeu com ar de deboche "ou então uma injeçãozinha!". É a frase sua que mais me passa pela cabeça, e consegue fazer brotar um sorriso em mim.
Lembro do dia em que voce foi pro hospital. O oxigênio da sua bomba havia acabado, você estava fraco. Ligaram pra ambulância, e deus, ela demorava tanto pra chegar!
Logo que voce se foi, me avisaram que não iria voltar. Minha mãe me contava sobre o que você fazia no hospital, lembro que ela dizia que você queria fumar, mas não deixavam, ou algo assim, sei lá..
Era dia da semana. Eu estava entrando em casa depois da escola quando a Cláudia disse "seu avô morreu". Não chorei na hora. Guardei pra mim, e não soltei até hoje.
Ainda não vi os dois filmes que você me falou. Perfume de Mulher e Uma Linda Mulher. Não estou preparada ainda, vou me lembrar muito de você, e não de um jeito feliz.
Acho que te vi depois que você se foi... No meu quarto e na sala. Você olhou pra mim e sorriu. Sei que não foi real, mas me senti tão bem, e guardo a imagem daquele sorriso comigo, em todo lugar que vou.
Eu sinto tanto a sua falta... Sinto falta de vê-lo sendo o primeiro a chegar aos eventos de família, e você me dava um presente ou dinheiro, e se desculpava por ser pouco. Desculpava-se a toa, porque qualquer presente seu significava muito pra mim. Você me abraçava e dizia que eu era linda, que me amava muito, e que iria me amar sempre, nao importava o que acontecesse. Parecia que você sabia o que aconteceria contigo.
Eu sinto muito a sua falta, e te amo muito.
Me perdoa?

Madrugada, novamente

Algumas coisas me deprimem. Ver amigos tristes, alguns livros e textos, algumas músicas, algumas pessoas, alguns gestos, algumas bebidas, algumas cores.
Nos ultimos dias, duas dessas estiveram mais presentes na minha vida: amigos tristes e um livro. O primeiro ja passou, acredito eu. Acredito tanto que dei varias risadas em relação ao problema de um deles ao escutá-lo contar o desfecho e rir também. O segundo chegou de verdade agora, às três da manhã.
Acabei de ler A Menina Que Roubava Livros, escrito por Markus Zusak. Fascinação é a palavra que descreveria muito bem o que eu senti por esse amontoado de papeis com palavras desde o dia em que vi sua capa em cima do criado-mudo da minha mãe, ano passado. Só ontem consegui criar coragem pra ler. Ao longo de duas madrugadas - ontem e hoje -, a fascinação se misturou com não-sei-o-que, convertendo-se em lágrimas em certos pontos do começo e da página 281 até a 479 - seu final. Confesso que se estendeu por mais uns 15 minutos, mas agora nao passa de maquiagem borrada, olhos inchados e nariz vermelho.
A maneira de escrever de Zusak me agradou tanto, que em certos pontos da historia, tive que parar e digitar umas passagens dele em meu computador, num documento do Word que leva o nome do livro. Meu tributo a ele.


"Mais uma prova de como o ser humano é contraditório. Um punhado de bem, um punhado de mal. É só misturar com água."

Começou a chover.


Meu Começo

Ao mesmo tempo em que nos obriga a sonhar, pensar, falar, fazer, escutar, assistir, avaliar - e trilhões de outros verbos - coisas que nunca passaram pela nossa cabeça, obriga-nos a fazê-lo com coisas que estão sempre em nossas rotinas, o que nos leva de volta ao seu começo, formando um ciclo estupidamente irritante. haha
E é liderada por ele, o famoso tédio, que eu começo mais um blog - se não me engano, o vigésimo que tento manter desde meus onze anos. A diferença é que dessa vez eu entendo um pouco mais sobre como isso funciona, e sobre o que se passa dentro de mim.

Tentarei ser o mais transparente possível.
Hope you like it, xx.

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