Uma História Sem Borboletas.

Vem cá, toma, acende esse cigarro. Senta aqui no sofá, esquece isso. Falemos sobre as palavras dos queridíssimos Mário Quintana e Hilda Hilst, falemos sobre as cores. Toma, uma xícara de café. Engole a indiferença com esse líquido preto e morno, que eu não gosto de te ver assim. Era meio alaranjada, ela respondeu. E fria, também. Mas isso não é uma cor.
Não mesmo, mas também serve. Acendi outro cigarro, e ela permaneceu quieta, contemplando a fumaça que saía do Marlboro recém jogado no cinzeiro, que subia num fio tênue e dissipava-se conforme atingia uma altura maior. Tive vontade de mandá-la embora, de apagar o cigarro em sua lingua, depois acender outro e apagá-lo em seu olho esquerdo. O que diabos era uma manhã alaranjada e fria? Uma manhã alaranjada e fria significa.., ela sussurou, quebrando o silêncio. Talvez tivesse entrado em minha mente. Talvez manhãs alaranjadas e frias fossem aquelas que te ensinam a ler pensamentos. Significa uma manhã como outra qualquer, exceto pelas pessoas. Ela passou a olhar pra dentro da própria xícara de café. Elas se tornam mais deprimentes do que habitualmente são, e isso é assombroso. É como se te olhassem querendo te devorar, e não no sentido bom. E quando você olha pra elas, vê apenas um nada. Talvez fossem aquele branco liso e calmo que Caio F. fala sobre em Uma História de Borboletas, aqueles bichos brancos e sujos. Mas não havia uma borboleta sequer em meus cabelos, nem nos das outras pessoas. A próxima manhã, espero ser azul e quente.
Outro cigarro, e mais outro, e outro, até acabar o maço. Nenhum deles apagado na língua, tampouco nos olhos. Pelo menos não visivelmente, nem por mim.

4 comentários:

Letícia Wilhelm disse...

Esta é a primeira vez na minha vida que entro em seu blog e vejo seu nome. Me apaixonei. Seu texto é lindo. Mal posso esperar para ler os outros. O desing do seu blog é muito fofo.

Cara, me ensine!

Virei fã. Pronto :)

ISSA disse...

Que trem baum esse blog sô. Texto digno!

Carol disse...

Talvez seja pelas circunstâncias, mas os seus dois últimos textos foram os primeiros -e espero que não sejam os últimos- que realmente me atingiram.
Obrigada por me cativar, de alguma forma.

Professor Tetéu disse...

Já falei que gosto muiiiito do teu texto?
Todavia, jamais vou comentar pessoalmente, morro de medo de um Marlboro ser apagado na minha língua ou no meu já cansado olho esquerdo!
Hahaha

Postar um comentário

Twitter

Seguidores

Visitantes

free counters
 

Tonksbond Blog | Layout por @vtkosq