A Little Accident.

Eu nunca tinha dado muito valor nessa coisa de aproveitar a vida. Nunca tinha entendido. Todo mundo fala que tem que acontecer alguma coisa conosco para que realmente nos importemos, e eu sempre achei que fosse besteira. Até aquele dia.
Não consigo explicar o que senti quando vi tudo girando... Foi uma mistura gigantesca de sentimentos. O barulho da roda batendo no meio-fio e do carro pousando no chão foram, pra mim, ensurdecedores. Os outros não lembram desses sons. A única coisa que eu pensava enquanto o carro rodava era 'acabe logo, acabe logo, acabe logo'.
O gui abriu o porta malas e saiu. Foi ajudar as outras pessoas a saírem do carro pela porta da frente. Saí pelo mesmo lugar que ele e, nessa hora, só pensava em entrar lá de novo para pegar meu tenis, que tinha saído do meu pé. Eu ainda não havia me tocado do que tinha acontecido. Depois que todos saíram, entrei e peguei meu all star - nessa hora marrom - branco. Saí de dentro do carro novamente, calcei o que tinha pego. Vi o carro de lado, completamente amassado. Minhas pernas bambearam e eu comecei a chorar. Acendi um cigarro.
A vida é sim muito frágil. Nós poderíamos ter morrido dentro do Jet, o Jatinho, dentro do Fox Submarine. Dentro do carro de onde tiramos todos os fandangos que caíram nos tapetes e nos bancos duas horas antes... Onde, naquele dia, avitamos fumar por causa do cheiro que ficaria. Aquele carrinho preto que tocava as melhores músicas do mundo e que nos levou pra todas as praças, picos, postos, parques abandonados... Que nos levava pra casa.
Eu continuo sem medo de morrer. Não acho que devemos ter medo de algo que acontece com todo mundo, que é natural. O que me preocupa é quando isso pode acontecer, porque pode não ser a hora, assim como não foi naquele dia.
We all used to live in a Fox Submarine.

3 comentários:

Anônimo disse...

Me preocupa o mesmo fato, afinal, a gente tem tanto pra viver, e em tão pouco tempo.

JONES DANIEL GIOVANELLA disse...

Como pode ser sempre uma boa hora para não cometer o mesmo erro ou mesma façanha. As vezes penso que a vida fica indignada com algumas atitudes cotidianas nossas, seja fumar, seja beber, seja rezar, seja amar... O que nós temos de concreto e que nos cabe, a certeza, é que a morte é tão certa quando a vida que temos agora.

Emanuele Alves disse...

É, muitas vezes só damos valor a vida quando estamos de cara com a morte. Ainda bem que você decidiu aproveitá-la, nunca sabemos o que espera. E que todos tenham a mesma coragem que a sua! A vida é pra ser aproveitada, mesmo.

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